autora: Holly Blacklido em 2014 e postado em 2017Poppy, Zach e Alice sempre foram amigos. E desde que se conhecem por gente eles brincam de faz de conta – uma fantasia que se passa num mundo onde existem piratas e ladrões, sereias e guerreiros. Reinando soberana sobre todos esses personagens malucos está a Grande Rainha, uma boneca chinesa feita de ossos que mora em uma cristaleira. Ela costuma jogar uma terrível maldição sobre as pessoas que a contrariam. Só que os três amigos já estão grandinhos, e agora o pai de Zach quer que ele largue o faz de conta e se interesse mais pelo basquete. Como o seu pai o deixa sem escolha, Zach abandona de vez a brincadeira, mas não conta o verdadeiro motivo para as meninas. Parece que a amizade deles acabou mesmo... Mas, de repente, Poppy conta para os amigos que começou a ter sonhos com a Rainha – e também com o fantasma de uma menininha que não conseguirá descansar enquanto a boneca de ossos não for enterrada no seu túmulo vazio. Então, Poppy, Zach e Alice partem para uma última aventura a fim de ajudar o fantasma da Rainha a encontrar seu descanso eterno. Mas nada acontece do jeito que eles planejaram... A missão se transforma em uma jornada de arrepiar. Será que a boneca é apenas uma boneca ou existe algo mais sinistro por trás desses fatos? Poppy está mesmo dizendo a verdade ou tudo isso não passa de um truque para que voltem a brincar juntos? Se existe mesmo um fantasma, o que vai ser das crianças agora que elas estão nas suas mãos? Confesso que vai ser bem difícil fazer uma resenha sobre esse livro porque ele me marcou demais na época em que li. A leitura é muito boa, mas o começo é meio chato porque mostra apenas a ficção que as crianças criaram e é tudo fantasioso demais quando não entendemos o contexto. Depois começa a ficar mais legal e entendemos que os três amigos criaram essa história como uma espécie de fuga do mundo totalmente hostil em que vivem:
É o pai de Zach quem praticamente começa a história. Desiludido pelos próprios sonhos que não conseguiu realizar, decide controlar a vida do filho para que ele seja um jogador de basquete profissional, mas entende que, pra isso, ele não pode mais brincar e joga fora todos os seus bonecos. Zach fica com muita raiva, mas esconde isso de todos e diz simplesmente que não quer mais brincar. Tudo seria muito mais fácil se ele simplesmente contasse a verdade no começo (e isso o livro deixa claro ao longo da narrativa). Entretanto, como ele não conta, as crianças começam a brigar. Isso até Poppy dizer que sonhou com a grande rainha dizendo que é um fantasma que não consegue descansar em paz e, por isso, eles devem procurar enterrá-la. No começo ninguém acredita, mas eles viajam assim mesmo. Logicamente se a história fosse só isso, ela não me interessaria nem um pouco porque, como cristã, não acredito nesse tipo de coisa e nem pra entretenimento é proveitoso. Entretanto, o que me fascinou são duas coisas complementares entre si: nós não sabemos se essa história de fantasma é verdadeira ou se Popy inventou tudo, e o tema central do enredo é o amadurecimento. Nós vemos claramente o quanto as crianças mudam em tão pouco tempo e o quão complicado isso é pra elas. Eu li esse livro em uma época que, pra mim, também foi difícil. Eu sabia que precisava voltar a ser como criança, mas quanto mais tentava pior eu ficava (já contei isso em alguns testemunhos). A vida (tanto normal quanto espiritual) segue um ciclo: somos inocentes, crescemos e devemos voltar a ser como crianças de novo. Entretanto, esse ser como criança não é ser infantil ou imaturo e sim ser simples porque a simplicidade é o segredo da maturidade cristã. O problema é que a criança é naturalmente inocente, mas inconsciente; e quando crescemos tendo consciência perdemos a inocência. Por isso, precisamos aprender a ser conscientes e, ao mesmo tempo, inocentes. Não dá pra ser inocente pra sempre, mas também não dá pra ser maduro em Deus sendo como adulto nesse mundo. O mundo adulto quer o tempo todo que sigamos os padrões da sociedade, sejamos independentes, aprendamos a mentir e que deixemos de crer no que é fantástico. Já a maturidade em Deus é muito mais parecida com o universo infantil do que com o que a sociedade tanto persegue. Como diz C.S Lewis: "Um dia você será velho o bastante para voltar a ler contos de fadas." A diferença é que a vida cristã apesar de ter todos os elementos do fantástico é ainda mais real e significativa do que tudo o que o mundo chama de real. Por isso, acredito totalmente que as histórias infantis nada mais são do que alegorias para o cristianismo (escrevi um texto sobre isso quando resenhei o livro “Era uma vez”). “Quando o pai de Zach foi embora, três anos antes, ele disse que montaria seu próprio restaurante na Filadélfia, iria à Itália para estudar como as massas eram feitas e estava conseguindo um horário na TV para fazer um programa noturno, e transformaria isso em uma fortuna. Porém, dois meses depois, ele voltou e foi morar em um dos horríveis apartamentos na maior e menos conservada casa vitoriana e entrava e saía da vida de Zach ao sabor do vento, até finalmente voltar para a casa deles. Era como se a cidade tivesse algum tipo de influência gravitacional nas pessoas que moravam ali. Porém, enquanto Zach ainda pensava naquilo, ele sabia que era apenas mais uma história. Papai estava de volta porque não conseguira aguentar a cidade grande. Isso era tudo. Ele se perguntava se crescer era descobrir que a maioria das histórias não passava de mentira.” “Se fossem reais, então talvez o mundo fosse grande o bastante para ter mágica. E, se existisse mágica — mesmo mágica ruim, e Zach sabia que era mais provável existir mágica ruim do que qualquer tipo de mágica boa —, talvez nem todo mundo tivesse que ter uma história como a do seu pai, uma história do tipo que todos os adultos que ele conhecia contavam, sobre desistir e crescer amargo. Ele poderia ter ficado envergonhado por desejar mágica em casa, mas lá no bosque parecia possível. Ele olhou para os olhos cruéis e sem vida da boneca, tão perto que ela poderia ter tocado no rosto dele.” "Há pessoas que fazem coisas e pessoas que nunca fazem... Que dizem que vão fazer, mas simplesmente não fazem. Eu queria ter uma missão. E, agora que tenho uma, não vou recuar. Não vou para casa até terminá-la." “Não é justo. A gente tinha uma história, e nossa história era importante. Eu odeio o fato de vocês dois poderem simplesmente ir embora e levar parte da minha história com vocês e nem se importarem. Odeio o fato de vocês poderem fazer o que precisam fazer e eu não. Odeio o fato de que vocês vão me deixar para trás. Odeio o fato de todo mundo chamar isto de crescer, mas parece que é morrer. Parece que cada um de vocês foi possuído e eu sou a próxima.” Não vou dar spoilers aqui e contar se tudo aconteceu de verdade ou não (será que dá uma terceira opção?). Entretanto, a lição principal que todos aprenderam é que mudanças são inevitáveis, mas isso não significa que sejam sempre ruins. Afinal, uma jornada precisa nos mudar pra ter valido a pena! Spoiler: No final, Poppy contou que realmente inventou tudo porque ela queria ter uma história real para que permanecessem juntos. Entretanto, o que ela inventou realmente era realidade e eles descobriram isso.
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AutoraÁlefe Histórico
Novembro 2021
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